Luiz H. Rapatão

Luiz H. Rapatão

Senior Software Engineer

6 Minutos De Leitura

Quarkus vs Micronaut

Recentemente no trabalho, pretendíamos utilizar GraalVM em uma nova aplicação. Buscando soluções compatíveis, vimos que Quarkus e Micronaut pareciam promissores e decidimos analisa-los.

Nota: Quando essa analise foi realizada, Spring possuía um suporte muito limitado ao GraalVM e foi desconsiderado.

Dentre as opções citadas, diversos benchmarks disponíveis na Internet foram consultados, além de verificado a compatibilidade com ferramentas e bibliotecas normalmente utilizadas nos projetos da empresa. Outros fatores foram analisados, como facilidade e qualidade da documentação e curva de aprendizado nessas tecnologias.

Curva de aprendizado

Curva de aprendizado

Apesar de muitas vezes ser desconsiderado em análises por parte das pessoas de tecnologia, a complexidade em aprender e, de fato, entender o funcionamento de uma tecnologia afeta muito a qualidade e produtividade da equipe em um projeto. Considerando ainda que pretendíamos utilizar GraalVM, era extremamente prudente levar esse tópico em consideração, visto que não seria apenas uma tecnologia “nova” a ser implementada no mesmo projeto.

Os membros da equipe também possuíam um bom conhecimento de Spring, sendo esse o que é normalmente utilizado nos projetos desenvolvidos, seja utilizando o tradicional MVC ou o reativo WebFlux.

Dentre os projetos que normalmente desenvolvemos, raramente temos uma complexidade elevada, no sentido de integração ao framework, sendo que normalmente apenas disponibilizamos uma API Rest que, pode consumir outras APIs e um ou mais bases de dados, ou seja, nossa complexidade tende a estar nas regras de negócio.

Tendo em mente os pontos citados, tanto Quarkus, como o Micronaut possuem diversas similaridades com o Spring, e facilitariam muitos dos nossos casos de usos, porém como tudo é declarado no Micronaut (beans, configurations, etc) pareceu ser bem mais semelhante com o Spring, o que poderia auxiliar no processo de assimilação da ferramenta.

Outro ponto que também trouxe certa facilidade com o Micronaut, foi o suporte que este possuí a declaração de queries de forma declarativa, semelhante à forma como ao disponível no Spring Data ou no GORM do Grails.

Durante essa análise, confirmamos que o Quarkus tende a seguir ou priorizar o uso de especificações, como JAX-RS, por exemplo, tendendo a não ser o normal de quem está no universo do Spring.

Compatibilidade

Compatibilidade

Como dito anteriormente, nossos casos de usos raramente possuem grande complexidade, sendo limitado a análise nos cenários mais comuns, ou seja, disponibilização e consumo de uma APIs REST, além de acesso a bases de dados, normalmente MySQL.

A disponibilização de endpoints, ambas ferramentas possuem similaridades, com foco no fato do Quarkus utilizar por padrão anotações JAX-RS, enquanto o Micronaut, apesar de possuir suporte a elas, utilizar anotações próprias, porém estas são bem intuitivas. Um ponto importante, e muito negligenciado quando falamos de APIs, seria sua documentação e neste assunto, ambos possuem suporte nativo para OpenAPI, permitindo que seja gerado uma documentação com base na declaração de endpoints existentes no código (code first).

Assim como é simples para disponibilizar um endpoint, criar um cliente HTTP também é semelhante em ambos frameworks, em que o cliente é construído apenas com a criação de uma interface anotada, explicitando em seus métodos, o verbo, o caminho, seus parâmetros, seus cabeçalhos e o corpo da requisição, muito semelhante aos já conhecidos Feign e Retrofit.

Um ponto que pode ser considerado interessante no Micronaut é em relação às configurações de (des)serialização, onde estas podem ser definidas no arquivo de configuração, sem necessidade de codificação. Através desse arquivo é possível definir desde qual estratégia de nomes utilizar (camel case, snake case, etc), até como os dados devem ser convertidos enquanto no Quarkus, isso somente pode ser realizado por codificação, elevando a quantidade de código produzido/contido no projeto.

O acesso a bases de dados é similar, com ambos possuindo suporte ao Hibernate e a suporte nativo a diversas bases. A questão está na forma como serão declaradas as consultas que serão realizadas, com o Micronaut suportando declarações por interfaces e métodos descritivos, enquanto o Quarkus, até onde consegui identificar, realiza de uma maneira mais declarativa e, consequentemente, verbosa.

Nesse projeto em questão, precisávamos realizar uma espécie de versionamento de todas as entidades que fossem alteradas na base de dados, porém, o histórico é armazenado em um serviço externo a aplicação. A maneira mais simples de se realizar essa integração seria através de um interceptor no Hibernate. Com o Micronaut, essa integração é extremamente simples, bastando disponibilizar no contexto um bean deste tipo, que este é automaticamente utilizado. Em relação ao Quarkus, eu não consegui identificar como seria realizado essa integração e tampouco consegui encontrar, seja na internet, seja em sua documentação oficial.

Documentação

Compatibilidade

Considero este um dos tópicos mais importantes a ser analisado, pois, a documentação é e deve ser sempre utilizada como referência para analisar ou construir eventuais casos de usos, ou apenas para entendimento das funcionalidades disponibilizadas por uma ferramenta.

Neste ponto, acredito que o Quarkus deixa muito a desejar, pois, sua documentação é baseada em guias práticos e, particularmente, considero isso muito ruim para um projeto de longa duração, mas são excelentes para quem gostaria de realizar testes de alguma integração ou funcionalidade. Ou seja, no decorrer do desenvolvimento de um projeto, a tendência é que as pesquisas relacionadas a tecnologia deixem de ser o “como fazer algo” para os “porquês de algo acontecer”. Com a separação por guias, essa pesquisa se torna difícil e cansativa, o que faria com que as pessoas buscassem outros meios, como Stack Overflow, por exemplo. Como exemplo, posso mencionar a necessidade citada acima, de criar um Interceptor, e eu não consegui encontrar nos guias exemplos de utilização e mesmo em mecanismos de pesquisa, não consegui encontrar nada relacionado a isso.

Por outro lado, com o Micronaut, sua documentação é bem mais detalhada e completa, acredito que falte muito para chegar no nível de conteúdo que a documentação do Spring possui, mas nela é possível encontrar praticamente tudo relacionado a um tópico de forma centralizada ou em documentações específicas de uma extensão, reduzindo em muito a necessidade de abrir e ler diversos guias de um mesmo assunto para encontrar algo específico.

Conclusão

Ambos frameworks possuem suporte e compatibilidade com os cenários que analisamos e poderiam ser adotados de forma tranquila em qualquer um de nossos projetos. Porém, a curva de aprendizado do Micronaut demonstrou ser bem mais tranquila, com bastante similaridades com o já utilizado Spring como, por exemplo, suporte ao acesso a bases de dados através da declaração de interfaces e métodos descritivos.

Porém, o fator que acredito que teve um maior peso na decisão foi a documentação, que apesar de acreditar que ainda possa ser evoluída, no Micronaut é muito mais completo e de fácil localização do que a encontrada com os guias disponibilizados pelo Quarkus.

Com tudo dito, se fosse para sair do universo Spring, seja para adoção ou não do GraalVM, hoje escolheria Micronaut, sem grandes receios nessa decisão.

Agradeço a leitura e sinta-se a vontade de realizar qualquer questionamento sobre o assunto.

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